Ni Una Menos: Línguas Loucas, do Grito Coletivo à Maré Global[1]

Resumo

O presente ensaio analisa os primeiros dois anos do movimento Ni una menos (Nem uma a menos) na perspectiva das poéticas das políticas do desejo, de seu nascimento até o presente, vinculando práticas concretas com a elaboração de conceitos.

O ensaio-manifesto foi escrito em 2017, pouco depois da organização da primeira Greve Internacional de Mulheres, que com os anos passaria a se chamar Greve Internacional Feminista. O texto documenta um momento histórico de agitação como parte de um processo de pensamento coletivo ligado à ação, que é ao mesmo tempo o embrião de muitos dos desenvolvimentos posteriores do movimento Ni Una Menos , do qual tomo parte desde 2015. O texto foi escrito em junho de 2017, e decidi manter as imagens e conceitos originais na revisão de 2019 para sua publicação, apesar de alguns de meus enfoques se terem transformado.

As línguas das loucas, do poema às ruas

Nós, as loucas, não falamos. Nós, as loucas, gritamos. E quando gritamos juntas, é um feito poético e político. Mulheres liberadas, putas profissionais ou amantes, feministas, Mães e Avós da Praça de Maio (que foram chamadas de as loucas da praça); travestis, trans, lésbicas; bichas, especialmente as latinoamericanas, que fizeram do ser, estar e fazer-se loucas uma política e uma poética deliberadas. Como Néstor Perlongher na Frente de Liberação Homosexual da Argentina e logo o grupo SOMOS do Brasil, organizações pioneiras do ativismo LGBT na América Latina, que nascem na aliança aberrante e minoritária entre mulheres e queers de todos os géneros. “Louca de atar”, dizia de si Reinaldo Arenas: loucas são as línguas neobarrocas. De fato, no jargão das loucas brasileiras, barroca significa bicha afeminada. Loucas, finalmente, somos (ou podemos ser) todas: as corpas femininas ou feminizadas, que se lançam ao devir mulher. Desde a Frente de Liberação Homosexual (1971) até o Ni una menos, e de Perlongher a Fernanda Laguna3: a língua das loucas desborda o literário e se torna uma questão política nas ruas e nas camas. Convoca movimento.

Porque nosso desejo é uma questão política, nós, as loucas, fazemos políticas do desejo. Porque para sermos sujeitas de direito, primeiro é necessário sermos sujeitas de desejo. Porque política sem afeto é burocracia, inchamos a língua de afetos, ou de fluidos corporais, como queria Perlongher, A Rosa Neobarroca, embandeirada e que funda as loucas locais. Por que louca somos nós, corpos sexuados (distintos do neutro masculino branco, normal, grau zero e parâmetro da subjetividade capitalista), hoje dizemos: nos move o desejo. E este movimento se traduz, contagia, permeia bordas e fronteiras, assim como esferas: da poesia à economia, do papel e das telas às ruas.

#NiUnaMenos

2015 é uma data chave no calendário global das políticas do desejo: é a data de início de uma nova era do feminismo, um feminismo massivo e popular, uma data marcada pela emergência da palavra chave #NiUnaMenos (#Nemumaamenos4).

Na cidade de Buenos Aires, março de 2015, um grupo de jornalistas, escritoras, artistas e comunicadoras profissionais começou a imaginar uma contranarrativa frente à ofensiva misógina que assolava os meios de comunicação hegemônicos. Esse plano era duplamente perceptível na forma como se construía narrativamente o assassinato de mulheres, que desde então começamos a chamar de feminicídio5 no discurso institucional e na opinião pública (com imagens mórbidas, detalhes escabrosos e observações morais que culpabilizam, revitimizam e objetificam as vítimas), e o aumento de casos e de crueldade. Esta estratégia combinava-se ao ataque misógino à então presidenta reeleita Cristina Fernández de Kirchner (a ‘égua’, para seus detratores), cujo mandato presidencial de oito anos estava terminando, como uma forma de campanha da Aliança Cambiemos, uma coalisão de neoliberais e neoconservadores que ganharia meses depois as eleições presidenciais e imprimiria um dramático giro à direita na história argentina. Essa investida de misoginia estava promovendo uma restauração conservadora que apontava para dois níveis interconectados e interdependentes. Por um lado, uma restauração da ordem patriarcal sobre os corpos femininos e feminizados, deshierarquizando-os e ressituando-os na posição subalterna que estava sendo questionada graças às políticas de ampliação de direitos (como as leis de casamento igualitário em 2010 e de identidade de gênero de 2012); e, em outro nível, através do ataque e do cerceamento a subjetividades minoritárias (mulheres, lésbicas, travestis e trans, migrantes, jovens, aposentadas, etc), estavam sendo estabelecidas aí as bases e a legitimidade social para uma restauração dos privilégios e e das velhas e novas oligarquias. Assim se gestava uma nova etapa de exploração e extrativismo dos corpos-territórios, como condição de possibilidade de uma nova fase brutal de acumulação capitalista. O ajuste, o corte dos gastos de bem-estar social e o desmantelamento dos programas de prevenção à violência e cuidado das vítimas estavam sendo montadas sobre um discurso machista, racista e classista articulado em torno ao fenômeno midiático do feminicídio.

O coletivo Ni Una Menos nasce, então, da confrontação com este discurso midiático misógino, advertindo os perigos que este reservava para o futuro imediato. Como primeira medida, e em busca de linguagens alternativas à dos meios de comunicação, o coletivo organizou uma maratona de poesia e realizou uma chamada aberta (de ampla convocatória) para fosse relida a tradição da poesia argentina na perspectiva do feminicídio. Um dado não menor é que a célebre María Moreno, uma das figuras centrais do feminismo pós-ditadura, leu nessa chave o poema “Cadáveres” de Néstor Perlongher, quase um manifesto neobarroco, conectando dessa forma a movida feminista nascente e massiva com uma tradição minoritária que em outro momento de minha investigação chamei de queer (ver meu livro Desbunde e Felicidade), no sentido de uma crítica da identidade e da articulação entre diferença e desigualdade, mas que prefiro chamar hoje de as línguas das loucas, por ser esse um conceito mais amplo e de raiz latino-americana.

Línguas afiadas, línguas de loucas

O conceito político da louca aparece com força na origem das políticas do desejo na América Latina. Néstor Perlongher, nossa Rosita Luxemburgo como ele gostava de se autodenominar, Madrinha do movimento latino-americano LGBTQI e pioneira feminista, é seu principal porta-estandarte. Porque a Frente de Liberação Homossexual (FLH) surge da aliança entre feministas e “homossexuais”, e tira sua radicalidade desse encontro, a figura da mulher louca funciona como um termo guarda-chuva para pensar essa convergência (Palmeiro, Lopes, Seoane et al). Louca vem originalmente do acervo do tango do início do século 20: louca era o insulto que patologizava as mulheres livres ou “putas”. Ocupar-se de seu próprio desejo é ser (ou estar) louca. Esta patologização do desejo feminizado também envolveu a idéia de homossexualidade como perversão e doença. A “putaria” que afeta os putos e as putas era entendida em termos psiquiátricos moralistas. E é deste fluxo feminino desejante que a cultura gay cis masculina queria se livrar desde sua criação e normatização no final dos anos 70 – o hit “Macho Man” do grupo americano Village People poderia ser um marco pop fundacional desta cultura misógina. Nos textos de Perlongher, tais como “O fim da homosexualidade” ou “Matam uma bicha”, podemos notar a crítica da construção da cultura gay hegemônica baseada em um mecanismo misógino de separação da louca. Contra esta normalização, primeiro como ativista na FLH e no SOMOS do Brasil, mas depois como escritor e ensaísta, Perlongher sustentou a figura da louca (bicha afeminada) como antídoto para a fixação identitária que o modelo gay norte-americano estabeleceria nas terras do sul após a transição democrática. A FLH, e especialmente o grupo Eros, propunha “uma revolução anarquista na ordem do desejo”, e reivindicava a figura da bicha escandalosa, andrógina, desestabilizadora dos modelos binários de masculinidade e feminilidade e desafiadora da ordem policial e militar. Hoje nós, todos os corpos feminizados, ocupamos esse lugar.

Os textos de Perlongher, em particular, defendem a bicha como resistência contracultural contra o machismo, na medida em que a bicha assume voluntária e solidariamente os atributos da mulher: devir-mulher como uma fuga em direção ao menor. No texto “O sexo das loucas”, Perlongher nos convoca a enlouquecer a heteronorma por meio de uma feminização barroca (o sexo das loucas como sexualidade louca: os mil sexos moleculares), e a emputecer a língua como arma revolucionária. Corpo e língua articulados e atravessados pelo desejo como força de libertação e transformação social. Mas como se produz essa articulação? Para Perlongher, como tia fundadora do movimento de mulheres loucas latino-americanas, tratava-se de um duplo movimento: politização do desejo, erotização da política. E, nesta articulação, a língua poética ocupa um lugar central, pois para ele a função da poesia era servir de laboratório para novas linguagens de protesto (daí o privilégio da poesia em relação às ciências sociais e à filosofia em seus próprios escritos). A este respeito, ele argumentava:

Todos estes microterremotos [os impulsos sociais de rebeldia e transformação social] se produzem ao nível dos corpos e quando atingem o terreno de expressão descobrem que o discurso já está codificado de antemão. O código dominante engole os discursos e os retraduz. […] temos que saber o que estamos fazendo, temos que saber como expressá-lo, e também temos que conseguir que esta expressão entre no campo social e possa fazer explodir o discurso institucional. (Perlongher 2004: 299)

Em última instância, a literatura parece ser para Perlongher a arma revolucionária: “[…] um barroco de trincheiras, um uso do barroco que pretende irromper no chamado discurso social […]” (Perlongher 2004: 293). Em sua recusa em subordiná-la à política segundo os paradigmas da poesia social dos anos 70 e em sua teoria do compromisso do escritor, a poesia de Perlongher encontra, em função da poética do neobarroco, uma linguagem capaz de formular o protesto social. A literatura não é apenas um relógio histórico-filosófico no qual a materialidade da linguagem capta os impulsos insurgentes da sociedade, mas também lhes proporciona uma forma de expressão inesperada e disruptiva.

A voz da louca tornava-se então subversiva na medida em que sinalizou a articulação entre repressão sexual e repressão estatal. Muitos anos após a normalização da cultura gay e do casamento igualitário, esta figura da louca perigosa (que nunca abandonou as travestis e as trans) deslocou-se para o estereótipo muito menos glamoroso da louca “feminazi”, hoje demonizada pelos meios de comunicação de massa e criminalizada nas manifestações sociais.6

Línguas de loucas, línguas políticas

A louca como figura fronteiriça e anti-identitária reaparece como sujeito do feminismo contemporâneo e se mostra útil para pensar o processo de devir-mulher no qual nos encontramos, e aquelas que se juntam nessa luta. O movimento Ni Una Menos (Nem Uma a Menos) surge de uma radicalização política da língua poética. Ni Una Menos é um grito comum que sai às ruas exercendo-se na poesia como uma injeção libidinal (e política) na língua. O lema é derivado de uma reformulação múltipla de lemas: de “nem um guri a menos”, um lema histórico das lutas contra a violência institucional na Argentina desde os anos noventa, e da frase “nem uma mulher a menos, nem uma morta a mais”, cunhada em 1995 pela poetisa mexicana Susana Chávez, uma das primeiras ativistas a denunciar os feminicídios em Ciudad Juárez, vítima por sua vez de feminicídio em 2011 e inspiradora do movimento mexicano Ni Una Más (Nenhuma a mais). Daí o coletivo chegou até a fórmula mais compacta Ni Una Menos (Nem Uma a Menos).

Após a maratona de poesia, o coletivo recém-formado convocou uma primeira mobilização em 3 de junho de 2015 que pôs na rua cerca de meio milhão de corpos feminizados na primeira manifestação massiva do Cone Sul (houve manifestações também no Uruguai e no Chile), da onda que se seguiria contra a violência machista da qual o feminicídio era a ponta do iceberg. Nessa primeira irrupção, o coletivo em estado embrionário apresentou cinco demandas fundamentais que estavam ligadas exclusivamente ao papel do estado na prevenção de violência de gênero7. Ao longo dos anos, as consginas (lemas) se radicalizaram à medida que o movimento se massificava, transnacionalizava e se capilarizava.

A fórmula dessa operação sobre a língua pode ser pensada como uma realização (pequena, parcial) do lema das vanguardas8. A imaginação ao poder, levar a arte para a vida. Se tratava de explorar os potenciais políticos da linguagem poética: Nem Uma a Menos é um lema que por sua formulação linguística (poética) é capaz de comover milhões de mulheres moleculares pelo mundo (emociona até o ponto de lágrimas ver protestos em lugares remotos do mundo onde o lema é gritado em castelhano como, por exemplo, na Coréia do Sul). Ni Una Menos é um grito coletivo, é um movimento internacional descentralizado e o nome do coletivo convocante, ao mesmo tempo que não aponta referentes concretos. É como um ato performativo mágico, nomeando e formulando uma utopia de um mundo sem feminicídios.

Lingua comum, palavras mágicas

Nem Uma a Menos nomeia a utopia ao mesmo tempo em que, no interior dos movimentos e dos protestos, põe em prática o mundo em que queremos viver. Inicialmente se trata, assim como na literatura, de fazer com que a língua imagine outros mundos possíveis ao custo do existente. Para chegar até esse estado criativo e performativo da língua, é necessário submetê-la a um processo de expansão e descentramento, começando pela sua relação com x sujeitx. Des-sujeitar, de-subjetivar a língua (o discurso social é um patrimônio dos machos) é um dispositivo coletivo de enunciação. Se a língua política das mulheres moleculares é uma língua menor (uma língua maior falada por uma minoria como pensaram Deleuze e Guattari em Kafka, por uma literatura menor), trata-se de que ao tomar a palavra, não façamos isso como sujeito individual, e sim em termos de uma enunciação coletiva: falar essa comunidade. Para atingir esse efeito, o procedimento é a construção de uma inteligência coletiva através da escrita em grupo. Nem Uma a Menos é um corpo coletivo porque é uma fala comum que cresce e se potencializa ao abandonar a pretensão de se apropriar de uma língua como se fosse uma mercadoria. Justamente, o coletivo e o movimento surgem a partir da ativação de um grupo de mulheres pela causa de todas, enquanto especialistas: colocamos nossos saberes e práticas individuais a serviço de uma luta comum onde não há lideranças individuais nem nomes de autoras ou propriedade intelectual.

Nem Uma a Menos é um lema apropriável assim como uma chamada à organização autogestionada e independente: qualquer uma que compartilhe os slogans pode se apropriar deles (há nesse momento centenas de grupos Ni Una Menos em lugares diferentes do mundo, ainda que com mais força na América Latina e na Itália). Trata-se de socializar a linguagem poética e política nesses processos de escrita coletiva, renunciando aos privilégios individuais da autoria. Nem Uma a Menos é em grande medida uma conquista da linguagem poética que se torna política e é amplificada e levada às massas pela tecnologia digital através de um uso crítico das redes sociais e dos meios de comunicação. Poderíamos dizer que realizamos assim uma exigência revolucionária: transformar o aparato de produção intelectual em um sentido anticapitalista, como pensava Benjamin com Brecht em “O autor como produtor”. Nesse processo são fundamentais a horizontalidade, a transversalidade e a interseccionalidade.

A maré feminista

Lemas são as hashtags, cantos e bandeiras pintados nas ruas (o grafite como órgão de difusão popular tem já uma grande tradição no feminismo e é um dos focos do controle policial em nossas lutas); essa explosão criativa inédita atravessa fronteiras e línguas e soma novas reivindicações de cada contexto, que complexificam e aprofundam nosso protesto transversal e diverso.

Enquanto o lema #NiUnaMenos viralizava nas redes sociais como trending topic9, esse grito comum contagiava e era traduzido em mobilizações massivas ao redor do mundo. Depois da primeira marcha Ni Una Menos em 3 de junho de 2015, em 12 de agosto de 2015, 70 mil mulheres camponesas participaram da Marcha das Margaridas em Brasília, reivindicando o fim da violência contra os seus corpos e territórios. Essa marcha de trabalhadoras rurais aponta para problemas fundamentais como o acesso à terra, a soberania alimentar, a destruição da biosfera pelo neoextrativismo, o envenenamento dos solos, a extinção das florestas e a privatização da água, reivindicando melhores condições de vida e trabalho para mulheres do campo e da floresta. Essa parte do movimento nos levou a pensar, junto com as companheiras da Guatemala, de Nicaragua e Honduras, em especial, na ideia de corpo-território: que nossos corpos, assim como as terras, têm sido transformados em territórios de conquista. A partir dessa perspectiva, o feminismo aparece como uma ponta de lança das lutas anticoloniais.

Em 7 de novembro de 2015 acontece a convocatória Ni Una Menos da Espanha, da qual participaram 100,000 pessoas.

Em 24 de abril de 2016, centenas de milhares de mulheres saíram para as ruas do México com o lema “Nos queremos vivas”, que deriva do grito “Levaram eles vivos, os queremos vivos” em referência aos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos em setembro de 2014. Esse, por sua vez, deriva da reivindicação de “aparição com vida”, um dos principais lemas das organizações de direitos humanos que emergiram durante a última ditadura cívico-militar argentina. Assim, é muito interessante observar como esses movimentos vão criando uma linguagem e uma gramática nova de protesto social na qual as reivindicações vão se tornando carregadas de historicidade e se potencializando através de uma tradução política.

No 1 de junho de 2016 é realizada por todo o Brasil uma marcha federal contra a cultura do estupro com o lema Por Todas Elas.

Em 3 de junho de 2016, se marcha novamente na Argentina sob o lema Ni Una Menos, adotando das companheiras mexicanas o lema “nos queremos vivas” para ecoar a rede latino-americana em ebulição. As demandas apresentadas na marcha começavam a se radicalizar e incluir também a demanda pelo aborto legal, seguro e gratuito e contra o ajuste neoliberal, a perda de empregos e o desmantelamento dos programas de prevenção do Estado. Essa marcha de 2016 significou o começo de um processo de assembleias massivo no qual os feminismos constroem horizontalidade e transversalidade, um processo aberto então para a organização de todas ações em nível nacional.

No 13 agosto de 2016 é realizada uma mobilização Nem Uma a Menos no Perú, a maior marcha na história do país.

Em 3 de outubro de 2016 é realizada uma greve de mulheres na Polônia, mostrando como essa ideia (que consideramos como um sonho, ou como uma ficção daquilo por vir) poderia se realizar. O dia 12 de outubro desse ano, dia do início da conquista e colonização do nosso continente, coincidiu com o feminicídio por empalamento – uma prática colonial inquisitorial – de Lúcia Pérez, uma menina de 16 anos, na cidade de Mar del Plata. Nesse mesmo dia, o movimento sofreu uma repressão policial virulenta no Encontro Nacional de Mulheres em Rosario. Se tornou então visível a articulação entre a violência institucional e a violência machista em um marco neocolonial. Em resposta a essa constelação nefasta, convocamos em 19 de Outubro (19 O) a primeira Greve Nacional de Mulheres (Paro Nacional de Mujeres), com réplicas de protestos em muitos pontos da América Latina. Depois da paralisação começamos a receber mensagens de mulheres do mundo todo para organizar uma greve internacional.

No dia 25 de novembro foi realizada a nossa primeira ação internacional. Foram feitas assembléias feministas em 22 países, principalmente na América Latina e também em cidades dos Estados Unidos como Nova Iorque e Miami sob a hashtag #NosotrasNosOrganizamos (Nós Nos Organizamos). Na tradição da sororidade levada para a rua, a ideia era nos reunirmos entre mulheres, dialogar e pensar o que nós estamos dispostas a tolerar e que coisas queremos; formular lemas, pintar os cartazes e sair para marchar. Essa ação estabeleceu também as bases e as redes para a Greve Internacional de Mulheres, assim como consolidou um internacionalismo situado e baseado em assembléias.

Na Itália, no dia 26 de novembro houve uma marcha nacional Non una di meno (Nem Uma a Menos), e uma rede de coletivos muito ativa e radicalizada por todo o país se conectou sob este nome. Essa rede nos ensinou muito pela forma como trabalham conceitualmente.

Em 21 de janeiro de 2017 foi realizada a Women’s March (Marcha das Mulheres) nos Estados Unidos – com réplicas em 600 cidades do mundo. Meio milhão de pessoas marcharam em Washington, DC.

Assim chegamos ao 8 de março de 2017 com a primeira Greve Internacional das Mulheres com uma participação de 55 países; na Argentina mais de meio milhão se mobilizou. A América Latina estava inteiramente presente pela primeira vez (com a exceção de Cuba), fortalecendo um movimento regional que nos hermana, que gera aproximação entre nós como mulheres latinoamericanas, entre os diferentes grupos, e que nos obrigou a um processo baseado em assembléias de negociação permanente, de massificação por inclusão e radicalização. Nossa metodologia é a tradução, o internacionalismo, a sororidade, a solidariedade, a transversalidade e a interseccionalidade.

Greve de mulheres: a terra treme

No dia 19 de outubro de 2016, a primeira Greve Nacional de Mulheres (a primeira do continente), irrompemos no discurso institucional com uma nova forma de pensar as violências econômicas a partir de uma perspectiva de gênero. Se manifestou então em um nível massivo aquilo que já era claro para as economistas feministas: que a violência machista está à serviço da concentração de capital e que a própria natureza do capitalismo é patriarcal. 10 Como analisa Silvia Federici em seu clássico Calibã e a Bruxa, a despossessão e o aprisionamento das mulheres e a consequente queima das bruxas na Europa dos séculos XIII e XVI estabeleceram as bases da acumulação originária que abriria espaço para o capitalismo colonial. Nesta obra Federici analisa distintas ondas de violências contra as mulheres como parte fundamental de processos de acumulação que lançam novas fases do capitalismo, vinculando assim a caça inquisitorial das bruxas com perseguições a mulheres em África nos anos 80 no marco da globalização do neoliberalismo, para conectar esses fluxos com um presente onde nos deparamos com um neoliberalismo colonialista de alta intensidade. O coletivo utilizou a investigação de Federici e também o conceito de “guerra contra as mulheres” de Rita Segato para pensar a pedagogia da crueldade e as novas de cerceamentos às mulheres e às propriedades comunitárias (que hoje são o Estado) no contexto do que chamamos de restauração conservadora da economia e dos corpos. A partir da nossa perspectiva, o aumento alarmante das taxas de feminicídio onedece a acumulação necessária para essa nova etapa capitalista.

O conceito de greve permitiu pensar a violência machista como uma forma de exploração capitalista e intervir no plano da produção: instalamos na opinião pública a certeza de que com o nosso trabalho desvalorizado no mercado e não reconhecido nem remunerado em casa, nós mulheres sustentamos a economia mundial. Uma paralisação de mulheres é, no entanto, mais do que uma greve de trabalhadores formais. A ferramenta política da greve, herança do movimento operário, foi refuncionalizada: fazer greve para as mulheres não significa apenas deixar de trabalhar em um emprego formal, mas é antes uma medida de forças existencial. Ser mulher, em termos molares, depende de uma posição determinada na divisão do trabalho. Porque o trabalho das mulheres não se resume ao emprego formal, mas inclui também fundamentalmente o trabalho doméstico, reprodutivo e de cuidado não remunerado, não reconhecido e desierarquizado. Fazer greve – ou parar -, para nós, significa deixar de fazer o que nos impõem e fazer o que queremos: deixar de ser o que nos impõe e nos tornarmos algo mais. Habitar uma nova pele sintética (as naturais não existem) feitas por nós para nossas corpas: trocar de pele e sair do roteiro de jogos de papéis. A experimentação estética desempenha um papel central nessa reformulação da subjetividade. Ao iniciar um processo de transformação, se liberam forças criativas antes restritas ao terreno estético que se aplicam na imaginação e construção do por vir. Se ativam nos corpos germens do futuro que buscam expressar-se criando imagens utópicas que se imprimem sobre os corpos e territórios. Esse devir é necessariamente coletivo e estabelece as bases de uma sororidade solidária (um dos nossos hashtags fundamentais é #EstamosParaNosotras, Estamos para nós mesmas). Esse “nós”, inclusive, desperta ressonâncias como senhas através das quais nos reconhecemos como companheiras e não como competidoras (como quer a nossa educação patriarcal). Estabelecemos alianças insólitas e nos encarregamos da luta e das reivindicações de outras companheiras. Por isso, a greve é também uma festa: dentro da greve, ensaiamos nossa utopia, colocamos em prática o mundo no qual queremos viver com outra distribuição do tempo e do trabalho. Nessa tensão entre o duelo e a festa, da dor até a força e a liberação de potências, é onde opera Ni una menos.11

A primeira Greve Nacional das Mulheres (19O) foi muito significativa porque retirou nossas demandas de um espaço de vitimização para nos posicionarmos como produtoras de valor. Embora a paralisação tenha sido mais simbólica, já que fizemos um chamado para uma parada de no mínimo uma hora, a convocatória foi imensa e se tratava de produzir uma imagem que convocava para a insurreição. Apenas em Buenos Aires, o protesto mobilizou cerca de 300,000 pessoas debaixo de uma tempestade épica (de lá veio a imagem que correu o mundo de um mar de guarda-chuvas na Plaza de Mayo). A mobilização teve um alcance federal massivo e uma dimensão regional impactante, já que produziu réplicas solidárias em vários países da América Latina. E foi justamente esse caráter viral da medição de forças que estabeleceu um saldo organizativo que forçou a Greve Internacional das Mulheres (8M).

O 19 O ativou as bases para um novo internacionalismo: em um manifesto o chamamos de “A Internacional Feminista”12. Essas redes se ativaram diante da possibilidade de irromper no âmbito da produção globalmente, mas também como reconhecimento de “nosotras” (nós) como novo sujeito histórico e político. Esse sujeito, que amplia os limites do pronome inclusivo, pode se descrever melhor da forma como tem pensado as companheiras italianas de Non una di meno: a maré.13

A maré é o novo sujeito coletivo que nós mulheres e corpos feminizados do mundo estamos construindo através dessas manifestações oceânicas que, a partir de 2015, se dirigem contra a ordem patriarcal em suas múltiplas facetas. A maré é uma nova multidão, mas dessa vez diferenciada, sexuada, minoritária, lançada em um processo de devir molecular que ocupa o espaço público, desborda o discurso institucional e explode em todos os âmbitos de nossas vidas: no trabalho, em casa, nas ruas e nas camas.

A imagem da maré é eloquente para analisar esse movimento. Uma maré é um movimento de deslocamento de fluxos dado pela força de atração gravitacional entre corpos celestes (o Sol, a Terra, a Lua). As marés afetam as vidas dos organismos no mar, na terra e na atmosfera, transformando assim os ecossistemas: alteram as formas de vida e as relações entre elas, as formas de convivência e a vida das comunidades. A força gerada pelas marés depende do movimento de rotação da terra em torno do Sol, da Lua ao redor da Terra que, não por acaso, são chamados de revoluções. Essa força tem um componente horizontal, que é o que produz as correntes das marés.

Algo assim ocorre com a maré feminista. É um movimento massivo de corpos como a expressão da força do desejo, potencializando e amplificando esses micro-terremotos que ocorrem no nível dos corpos (onde experimentamos a energia vital de criação e de diferenciação), sacudindo a linguagem política tradicional e suas formas de representação. Essa força do desejo se expressa em e convoca um grito coletivo, cuja irrupção no contexto da linguagem burocratizada tem o efeito de uma onda que arrasa os significados da política tradicional, como a maré que afeta o ecossistema dentro e fora da água. Assim podemos pensar, portanto, na transformação funcional da ferramenta da greve como ferramenta do processo de devir.

A maré tem uma metodologia: avança por horizontalidade e transversalidade. Nesse sujeito coletivo não há apropriação nem privatização, não há representação: todas as mulheres moleculares do mundo com suas reivindicações são bem-vindas nos processos assembleários através dos quais se constroem as ações e as demandas desde 2016. A maré cresce ao incorporar desejos e perspectivas de cada contexto onde desborda desde as bases das organizações políticas e sociais nas quais se inscrevem. Assim, por exemplo, ao integrar as reivindicações das mulheres camponesas e dos povos originários, a maré passou do grito de autodefesa para a ofensiva anticapitalista. A maré trouxe para a opinião pública a radicalização de questões de ecologia, de anticolonialismo e antirracismo em termos de uma crítica da exploração neoextrativista dos corpos-territórios, articulando assim um discurso anticapitalista e uma crítica radical do modo de vida humano e do projeto iluminista de domínio da biosfera.

Por meio do trabalho coletivo de tradução política solidária e de socialização das línguas loucas, as línguas desatadas, a maré ultrapassa línguas, gêneros e identidades, elaborando um internacionalismo minoritário a partir das margens e periferias. A maré atravessa diferentes topografias, nivela e nos faz flutuar juntas em novas constelações e formas, alianças insólitas, superando as diferenças entre os muitos feminismos. Traz para a superfície aquilo que estava no fundo, produzindo vínculos inesperados contra violências físicas, violências simbólicas e violências econômicas. Esse cenário se torna perceptível e oferece uma possibilidade de reordenamento, liberando a imaginação social para criar uma nova divisão do capital e do trabalho. Também torna evidente, para além da heterogeneidade dos feminismos que relaciona (feminismo negro, feminismo queer, feminismo popular, feminismo marxista, feminismo indígena, lutas camponesas, ecofeminismo, etc), ao nível dos afetos e dos corpos na rua, que existe um enorme prazer de nos reconhecermos umas nas outras e de ressoar com as lutas e demandas umas das outras. Encontramos essa espécie de microfeminilidade, de correspondência de formas entre nós que vai mais além da identidade molar. E essa correspondência, essa espécie de semelhança na diferença, que nos leva a praticar (ainda que não sem conflitos) a sororidade como princípio fundador de uma nova sociedade não-patriarcal. Porque a nossa revolução é uma questão de desejo, de força e de energia. A maré da insubmissão arrasa as formas que estão dadas, as identidades e as formas capitalistas e patriarcais de fazer política.

Essa é uma revolução sensível que está ocorrendo no nível micropolítico e está começando a afetar a macropolítica desde baixo. Juntas e radicalizadas, nós, mulheres do mundo, construímos um movimento de base popular que, por sua transversalidade, começa a desbordar em outros movimentos sociais e estruturas políticas (partidos, sindicatos, organizações). Nosso futuro é incerto, mas nossa revolução está caminhando. No contexto de uma crise de escala global que põe em risco a própria continuidade da vida do planeta, “nós nos organizamos para mudar tudo”, incluindo a nossa relação de domínio patriarcal com a Mãe Terra. “Um olhar a partir da sarjeta pode ser uma visão do mundo, a rebelião consiste em olhar para uma rosa até que se pulverizem os olhos” (1962: 103), escreveu Alejandra Pizarnik em Árbol de Diana em 1962, sem imaginar que uma língua de louca amplificada poderia dar uma perspectiva e uma chave para um movimento global. Porque a nossa percepção da realidade histórico-política do mundo nos transformou coletivamente e exige uma transformação dessa realidade; porque nunca voltaremos a ser as mesmas. Porque seguimos o legado de Lohana Berkins, figura chave do feminismo travesti latinoamericano: “o tempo da nossa revolução é agora”, e não voltaremos nem para a prisão, nem para o confinamento doméstico.

Obras citadas:

Deleuze, Gilles e Félix Guattari. Kafka, por uma literatura menor. São Paulo/Belo Horizonte: Autêntica, 2014. Impresso.

Federici, Silvia. O Calibán e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

Fernández, Ana Maria. “Feminicidios: la ferocidad del patriarcado”. Revista Nomádias 16 (2012): 47-73. Web

Palmeiro, Cecilia.2 Desbunde e felicidade: Das cartoneras a Perlongher. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2019

Palmeiro, Cecilia. “Mareadas en la marea: archivo y vanguardia feminista. Acciones del colectivo Ni Una Menos 2015-2019”. Em: El lugar sin límites 1.1 (2019): 1-29. Web.

Palmeiro, Cecilia, Mariano López Seoane et al. “La Loca como estilo”. Em: Mancilla 12-13 (2015): 20-25. Web.

Perlongher, Néstor. Correspondencia. Buenos Aires. Mansalva, 2016.

Perlongher, Néstor. Papeles insumisos. Buenos Aires: Santiago Arcos, 2004. Impresso.

Pizarnik, Alejandra. Poesía completa. Buenos Aires: Corregidor, 1990.

Segato, Rita. La guerra contra las mujeres. Buenos Aires: Tinta Limón, 2017.

Tradução: Cristina T. Ribas e Luisa Amaral

Este texto foi traduzido num estado de greve entre vários meses, como um ato de afirmação das línguas loucas que possuímos e ativamos. Enfim, uma tradução solidária e de socialização entre línguas loucas. Finalizado em Março de 2023.

Bios:

Luísa Souza é uma travesti jornalista, pesquisadora com mestrado em filosofia e militante anarquista. Hoje em dia, atua na Teia dos povos de São Paulo e em projetos relacionados à luta anticolonial, feminista e ambientalista entre outras.

Cristina T. Ribas. Pesquisadora militante, feminista, brasileira mãe, doutora pelo Goldsmiths College, University of London. Foi pós doutoranda do PPGAV Instituto de Artes da UFRGS (2018-2023). Organiza projetos transdisciplinares e entre mundos mais que humanos, escreve e pesquisa partir da processualidade da criação, dos feminismos transversais, das cartografias visuais e de práticas de conhecimento livre. Aprende e arrisca iniciativas entre o teatro de improvisação, processos grupais e a análise institucional. Vive em Porto Alegre, RS, onde integra a Frente pela Legalização do Aborto/RS.


  1. Originalmente publicado em Cuadernos de Literatura 23.46 (2019): 177-195. https://doi.org/10.11144/Javeriana.cl23-46.nlgm↩︎
  2. Professora de estudos culturais latinoamericanos na Universidad Nacional de Tres de Febrero e na New York University em Buenos Aires. Realizou doutorado em Literatura Latinoamericana na Universidade de Princeton e um pós-doutorado em Letras (UBA-CONICET). Autora de Desbunde y Felicidad. De la Cartonera a Perlongher (Buenos Aires: Título, 2011 e Rio de Janeiro: EDUERJ, 2019), Correspondencia de Néstor Perlongher (Buenos Aires, Mansalva, 2016) e da novela Cat Power. La Toma de la Tierra (Buenos Aires: Tenemos las máquinas, 2017). Lecionou cursos de teoria literária e estudos culturais na Universidad de Buenos Aires e na Universidad de Londres-Birkbeck. É integrante do coletivo Ni una menos (Nem uma a menos).↩︎
  3. [N.t] Fernanda Laguna é uma artista, escritora, curadora e gestora de uma iniciativa feminista chamada Fiorito, em Buenos Aires, Argentina. https://es.wikipedia.org/wiki/Fernanda_Laguna↩︎
  4. [N.t.] No Brasil movimentos feministas em aliança com movimentos argentinos e latino-americanos usam a tradução Nem uma a menos (#nemumaamenos), que é correta e unifica a luta. Encontra-se também, contudo, “nenhuma a menos” (#nenhumamenos) para algumas campanhas contra o feminicídio.↩︎
  5. O termo femicide, formulado em inglês em 1974 pela escritora estadunidense Carol Orlock, começou a ser utilizado publicamente desde 1976 pela feminista Diana Russel. “O conceito de feminicídio permite traçar conexões entre as diferentes formas de violência, estabelecendo o continuum de terror e violência contra as mulheres (Kelly). Nessa perspectiva, a violação, o estupro, tortura, mutilação genital, o incesto, abuso físico e emocional, o assédio sexual, o uso das mulheres na pornografia, a exploração sexual, a violação conjugal, a esterilização ou maternidade forçada, o tráfico, os abortos ilegais, são todas expressões distintas da opressão das mulheres, e não fenômenos sem conexão. No momento em que qualquer dessas formas de violência resulta na morte da mulher, essa se converte em feminicídio” (Fernández 2012: 49).↩︎
  6. Já em 2015 e em pleno clima eleitoral, enquanto se preparava o caminho para o governo macrista e suas políticas de terror, começou a repressão contra as participantes do Encontro Nacional de Mulheres em Mar del Plata, que iria continuar no ENM em Rosário em 2016 e atingir seu auge na primeira Greve Internacional das Mulheres em 8 de março de 2017, com 25 detidxs de forma ilegal na cidade de Buenos Aires. É importante enfatizar que nessa data global houve repressão policial em várias cidades. O caso de violência institucional mais extremo foi o massacre de 41 meninas que morreram queimadas em um incêndio durante um protesto em um albergue para menores na Guatemala.↩︎
  7. 1) “Pedimos a implementação do Plano Nacional de Ação para a Prevenção, Assistência e erradicação da violência contra as mulheres que está na Lei 26.485. Pedimos que ela seja cumprida integralmente, que haja monitoramento e orçamento para tudo que se faz.”2) “Pedimos que seja garantido o acesso à Justiça para as vítimas; que haja apoio jurídico; que elas não não sejam revitimizadas; que os casos que tramitam no foro civil e penal se unam para que tudo se agilize.”

    3) “Entendemos que é fundamental que existam estatísticas oficiais sobre femicídios, já que até agora só contamos com os números produzidos pela Casa Del Encuentro, que é uma instituição civil. Dentro do Estado é preciso haver um Registro oficial único, para que as políticas públicas seja pensadas nessa dimensão.

    4) “Queremos a garantia da Educação Sexual Integral em todos os níveis, já que existe uma lei desde 2006 que afirma que em todas as escolas do país e em todos os níveis (público e privado) esse conteúdo seja apresentado. A mudança mais profunda é cultural, é romper com a lógica patriarcal, então a educação é fundamental”

    5) “E por último, acreditamos que as vítimas devem estar protegidas, porque é muito difícil para uma mulher que vive uma situação de violência denunciar. Quando se mobiliza e ativa uma investigação contra o homem que golpeou ou ameaçou, a Justiça tem que monitorar para que se cumpram as medidas dispostas para cada caso.”↩︎

  8. Anos mais tarde, elaborei uma aproximação mais barroca do conceito de vanguarda feminista (Palmeiro, 2019, Mareadas en la Marea).↩︎
  9. [N.t.] Trending topics é uma forma de mapear e contabilizar a circulação de assuntos e memes nas redes sociais. Os tópicos mais comentados sobem para o “topo”.↩︎
  10. Se pode ler o documento completo em https://www.pagina12.com.ar/24628-por-que-paramos↩︎
  11. Em nossas mobilizações muitas vezes incluimos a dança coletiva como ritual de conexão vibrátil, empática entre as corpas; auto-celebração e auto-reconhecimento prazeiroso, ativação de um coletivo do desejo (#NosMueveelDeseo, #NosMoveoDesejo).↩︎
  12. Disponível em: https://www.pagina12.com.ar/5060-la-internacional-feminista↩︎
  13. Disponível em: https://www.dinamopress.it/news/if-women-are-becoming-a-multitude-all-around-the-world/↩︎

Sumário