Manifesto: Feminismo da Vibração
Katia Sepúlveda.
Quero que o mundo reconheça comigo a porta aberta de cada consciência
Franz Fanon
O feminismo da vibração é complementar à luta antirracista, quero dizer, complementar à coexistência e ao apoio coletivo, porque cria novos Imaginários de luta frente ao opressor das vulnerabilidades, entretanto não venho cristalizar um pensamento, tampouco desejo fixar meu discernimento, é por isso que ao final deste manifesto já não serei a mesma – este é um manifesto que devém constantemente, que dizer, não está sujeito a nada, portanto seu fim não é chegar a um exo-feminismo elementar, senão conectar o feminismo com:
Cérebro, coração e fígado.
a. Como é acima é abaixo.
b. Dentro é fora
A matéria do texto e destas palavras convergem nos fluxos das genealogias Invisíveis desde uma intuição que venho propor como um diálogo aberto a escutar os seres sensíveis, caminhar rumo a uma vibração que seja capaz de transformar a política das democracias-coloniais-necro-fascistas e modernas [.] Qual é nosso idealismo coexistente? Corpo mais alma mais intelecto mais coração mais emoção mais espírito. Liberdade: poder começar e terminar algo. Desde o Universo quântico ao universo cuático [1], o feminismo da vibração é a Consciência de um xeno-território, wallmapualizado, no plano do espiritual, como A consciência cibernética de Chela Sandoval, uma tecno-consciência que deriva em Consciência vibracional.
Como criar uma dialética que escape do tempo?
Já não abrimos uma porta apenas, mudamos o passado para poder respirar outra forma de tempo, sem nenhuma forma geométrica que nos limite enquanto saltamos, palpitamos, sentimos e sonhamos, se toma a consciência Patch, consciência espacial proposta pelos feminismos negros/de cor (1980), tudo é vibração, portanto, a morte não existe, quer dizer, a transformação da matéria é palpável, com efeito, somos a causa de uma consciência que já não teme a pulsação do tempo, desta forma estamos prontas para despertar em outra dimensão – escrevo desde a interrupção de um passado que desejo despojar -, isto quer dizer que esta percepção começa a ponderar sobre uma consciência mutante, viva, dançante, regozijante, que celebra a energia da criação, da performatividade da vontade de viver e de vida, esta é uma nova prática de compressão, me refiro a uma nova ordem social e política, que se poderia denominar conhecimento kiltro [2], feminismo de outras dimensões do terceiro mundo, com o propósito de alterar a ordem binária da suposta natureza. Assim afirma a física quântica, poder mudar o pretérito que está todo o tempo no presente – à nossa frente -, ir a essa raíz é uma viagem sem retorno, poder mudar tudo, do caos ao amor, proponho esse quinto espaço, como uma tática de tropos de uma consciência do outro, entender esse movimento me ajuda a me deslocar pelas diferentes realidades que habito, tal qual a sensatez permita, e que o gesto de ponderar se torne indispensável para entender o significado desta vibração política, visionária e para não entorpecer os processos políticos históricos que a própria gente que caminha descalça começa a alterar.
Avivar os mundos infinitos em torno a um modo verbal que vibra em todo meu ser como dupla oscilação ou seja encarna a transfomação em si mesma do tecido oposicional, como por exemplo o corpo fora das coalizões partidárias ou em seu defeito institucional – feito ideologia -, os chinchineros [3] serão meus aliados para a ressonância de um devir em potência de fusão com a trepidação do ativismo espiritual, libertador do juízo ocidental, este feminismo se ilumina com os movimentos sociais e a vida cotidiana que impulsiona a autonomia alimentar, se nutre dos contos das avós e se unem em perpétua conexão – de uma contra-ideologia -.
O que houve antes?
Uma consciência igualitária, socialista, comunista, revolucionária, supremacista, separatista, diferencial, autônoma, transfeminista, um feminismo contraditório, parafraseando Cherríe Moraga, em outras palavras, a cosmopolítica vibracional é um salto de consciência em consciência, para reconstruir a paz originária, reparar sem cessar, somos as criaturas da sensualidade da quinta dimensão, assim este manifesto responde a um estado propedêutico, igual às vozes de agitação, polifonia do tremor de muitos saberes ancestrais comprometidos com a- v i d a- u n i c a m e n t e -, aprendemos com as vozes que nos visitam – porque todas repercutem em meu peito -, é uma resposta política aos que professam e respondem à ordem dominante, assim se desloca qualquer grau de diferença re-re-re-re-re-re-re-volucionária, dentro da dimensão material da vida, corresponde a um plano quântico que na maioria das vezes é observado desde um materialismo feroz que não se pode perceber com os cinco sentidos, não obstante, esta proposta é para sentir desde outras dimensões e com o terceiro olho, a micro-realidade da nano-vibração do que se diz que é a matéria, para que não seja simplesmente simbólica, mas sim nos ajude a deixar de crer e confiar nos cinco sentidos, que nos enganam muitas vezes, comecemos a confiar na vibração: com os olhos fechados, com o olfato, com as cordas vocais, com os ouvidos, quer dizer, no palpitar da brandura da vida, para nos transformarmos e nos unirmos aos fluxos cósmicos de uma constante meditação, conectada à supraconsciência, viver o signo, ser capazes de transpassar sua materialidade tangível, externa, física, visível, sensorial, com o propósito de perfurar a realidade, rumo a novos mundos, desta forma abandonamos o sentido universal da denotação, a saber sem descrição e literalidade, um devir onde o estado será a tranquilidade, sossego, harmonia, calma, repouso, concórdia, acordo, amizade – união como paz experimental -, símbolo construído em três partes, por exemplo – um mundo enquanto existam representações, seguirão as reparações – já não esperamos mais o remendo do tecido amoroso, – insistiremos em não nos separar jamais da vida -, vir a recompor os acidentes coloniais, em alienação com a dissidência cósmica, no campo unificado da matriz divina e inter-relacional, dos sentidos extra-sensoriais – além de nós -, re-decolonial, criar a trajetória planetária astral desde qualquer ponto planetário e estrelar, nossas condutas seriam vibrantes, cuáticas, [a-quáticas], quânticas, porque tudo o que é sólido desmancha no ar, e é a trepidação do sujeito – desejante -, ao sujeito palpitante, em sua direção à desaparição do tempo linear, quintessência secreta dos cinco sentidos, e que com a alma fazemos a cogitação, ruminação reflexão, ensimesmamento, sacudido pela dança invisível da vibração rápida, daí se trançam as palavras, deste tipo de verbalização de uma multiplicação, uma pluralidade da maré do pensamento com a consciência, porque a percepção física é dual, ao contrário da unificação e/ou transmutação.
Primeira dimensão: altura
Segunda dimensão: largura
Terceira dimensão: profundidade
Quarta dimensão: tempo
Quinta dimensão: consciência
A partir deste último aspecto não existe o medo – só o amor -, o afeto é suscetível de ser mudado, ou seja, desmaterializado , e pode ascender, sacudir o estado fixo das coisas e dos corpos, a verbalização é diferencial – este é um exercício de contração do ego -, um ciclo de humildade, para nos encontrarmos abertos a tudo, aqui se encontra o sim radical, um grande unificador pelo qual vem a se solucionar o drama da dualidade, e para isso é preciso perscrutar no mundo espiritual, por exemplo, com nossa alma elevar as coisas à sua essência estratégica espiritual, e des-territorializar a matriz social da raça, do sexo e da classe, consequentemente se re-territorializam os saberes ancestrais, assim nos aproximamos fluidamente ao afeto do horizonte dos comuns que, como resultado, será um feminismo vibracional, que gerará o sujeito vibrante que palpita rumo ao infinito amor.
[1] Significa “escandaloso” em idioma chileno.
[2] Em língua mapuzungun, cachorro vira-lata.
[3] É um personagem popular chileno que leva em suas costas um bumbo que percute com umas varinhas.
Texto escrito logo após a leitura-performance desde a tecno-classe à xeno-classe, em um avião entre Santiago (Chile) e Colônia (Alemanha), pelo ano de 2019.
P.S.: Entretanto, hoje transito por outro momento de minha existência, mais próxima afetivamente a um feminismo decolonial, perambuladora de um anti-futuro que desconheço, não obstante, este texto é parte constitutiva da genealogia do meu ser, da que fui, da que sou e da que serei, quer dizer, nunca terminada e praticamente ativa das vontades que aprendo a sentir… Big Love.
Traduçao Francisco Freitas.